Resenha com as letras das músicas do disco A Abominável Máquina da Resistência.
A
Abominável Máquina da Resistência é o primeiro disco prensado da
The Good Garden, vale a pena explicar a diferença entre um CD
prensado e um replicado, acontece que o prensado é o que é feito na
fábrica e traz todas as informações para sua comercialização em
pontos de venda oficiais, com direitos autorais garantidos e tudo
mais, e os replicados, apesar de comercializados alternativamente são
meras cópias de arquivo, no caso dos nossos dois últimos, registros
ao vivo. Esse disco faz um apanhado geral de diversas fases da banda
em 10 canções. Essa resenha é para demonstrar as letras dessas
músicas e comentá las do ponto de vista da gente, já que sabemos
que uma música se adapta a realidade do entendimento de quem ouve e
é bom que seja assim pois é aí que mora essa grande magia de ouvir
e curti uma música. Então, por ordem, vamos lá.
01
Cabra Véi Enxerido. Entendemos que o Rock Popular Brasileiro surgiu
até mesmo antes da Jovem Guarda com Rony Cord, Celly e Tony Campelo
e Sérigo Murilo, há mais ou menos 60 anos. No Brasil a música
popular tem uma outra matriz, regional ou não, isso para nós pouco
importa, o importante é notar que o bom e velho Rock in Roll trouxe
essa geração 50/60 como a primeira geração do espirito sempre
jovem, vide os Rolling Stones né? Com isso abrimos o disco com um
Rockezinho antigo que não tem perigo de assustar ninguém! Cabra Véi
Enxerido é um rockabilly que posiciona essa geração nesse espirito
forever young. Saca aí.
Cabra
Véi Enxerido
Sessenta
anos não estou enferrujado
Ainda
à gatinhas que me olham de lado
Desculpe
aí garotos mas ainda estou na área
E
quando toca rock in roll eu mostro meu rebolado
Sou
um pitéu,
Eu
sou um pitéu
Quando
entro em ação eu pareço ter gostinho de mel
Sou
um pitéu, eu
sou
um pitéu
Com
vontade de viver mais sessenta e não ir logo pro céu
Eu
posso ser velhinho, ser chamado de idoso
Mas
esse rebolado é que me deixa assim famoso
Eu
tenho esse Dom de rebolar o meu bumbum
mas
não fique pensando que isso é pra qualquer um
Sou
um pitéu
Eu
sou um pitéu
Quando
entro em ação eu pareço ter gostinho de mel
Sou
um pitéu,
Eu
sou um pitéu
Com
vontade de viver mais sessenta e não ir logo pro céu
Tem
muitos por aí dizendo que são bons de cama
isso
não me atrapalha não derruba minha fama,
não
sou mais um gostoso, um metido a boçal
Mas
tratar desse assunto é o meu potencial
Sou
um pitéu,
Eu
sou um pitéu
Quando
entro em ação eu pareço ter gostinho de mel
Sou
um pitéu,
Eu
sou um pitéu
Com
vontade de viver mais sessenta e não ir logo pro céu.
O
Assassino João Maldade é baseada, ou, pelo menos tenta ser, em
músicas roteiro, tipo, era pra ser um filme! A ideia parte de quando
eu (Georgiano) e o Cícero Alexandre escutamos a História de Um
Homem Mau, de Roberto e Erasmo. Um bang, bang, que é um dos meus
gêneros preferidos de cinema. Tanto faz se é Americano ou Italiano, o Alexandre comentou a ideia com o Wellington e ele fez essa pérola
que devia ser a trilha sonora do filme. Como nós somos uma banda de
Rock começamos o filme pela trilha, por aí vocês podem ter uma luz
sobre como funciona nossas cabeças. Sente aí:
O
Assassino João Maldade
Não
veio aqui para tentar a sorte
Por
que nesse jogo vai até a morte
E
se não morrer não vai saber a hora de parar
Sempre
está pensando em matar alguém
Muita
experiência nisso ele tem
E
ninguém não sabe o que vai planejar.
Cuidado
todo mundo por aí
O
homem malvado vai começar a matar
Não
fique andando por aí tão tarde,
Pois
foi nomeado por João Maldade
E
com sua arma ele atira em quem aparecer
Nunca
na sua vida foi um bom rapaz
Várias
tentativas pra ele ser capaz
Mas
nessa área de bondade ele não vai viver
Cuidado
todo mundo por aí
O
homem malvado vai começar a matar
O
Homem – Máquina é uma inversão de valores dentro de uma critica
social que também vem do cinema. Quem já assistiu Tempos Modernos
de Charles Chaplin? Ou O Homem Que Virou Suco de Francisco de Assis, se não me engano. Nesses filmes o Homem é exposto ao mercado de
trabalho da metrópole industrial, sendo na metáfora transformado em
máquina pela exploração do sistema. O nosso personagem é aquele
cara que resiste a isso, mesmo inserido dentro do sistema ele
extrapola nos finais de semana. É o marginal por necessidade, o punk
da periferia, como dizia o Gil. Observe
Homem-Máquina
Hey,
Hey! Eu não sou tão igual
Aqueles
que andam por aí
Hey,
Hey! Eu não tô falando mal
Daqueles
que não sabem curtir
Não
sou um bom cidadão pois minha fama me larga nas calçadas
E
meu motor coração só acelera quando vêm uma outra farra
Eu
sou o Homem-Máquina
Hey,
Hey! Não posso enferrujar
Preciso
de uma manutenção!
Hey,
Hey! Não quero exagerar
Pois
minha vida é uma longa curtição
Será
que perco à cabeça com essa história que já é popular
Espero
que não esqueçam que ninguém vai conseguir me alcançar
Eu
sou o Homem-Máquina.
Cotidiano
é sobre a nossa rotina, Eu (Georgiano) o Cícero Alexandre e o
Thesco na época tínhamos que ralar pra sobreviver. No início da
fase adulta nos estávamos nos corres de emprego, movimento, banda…
Eles já para serem pais e tudo mais. É uma melô sobre jovens do
suburbio que curtem Elvis e Jerry Lee. Ela e o Rock do Fuscão são
as minhas digamos “autobiográficas” desse disco. Saca só:
Cotidiano
Todo
dia eu acordo e saio de casa bem cedo
Sem
tomar café, sem tomar café
Pego
a condução que é um ônibus lotado
Eu
corro para o trabalho para não chegar atrasado
Bato
o ponto a sete e meia depois daquela correria
Doze
horas de trabalho é isso todo dia
E
no final do mês
É
aquela mixaria
No
final do Mês
Aquela
mixaria
Aquela
mixaria
No
Final do mês
Mas
domingo é meu descanso e eu tenho que ensaiar
Com
a minha banda
Para
não desandar
Qualquer
dia eu largo tudo, tudo de uma vez
Eu
vou viver de Rock
De
Rock pra vocês
E
no final do mês
É
aquela mixaria
No
final do Mês
Aquela
mixaria
Aquela
mixaria
No
Final do mês
Discurso
Pró Caretice é sarcasmo puro, uma espécie de compreensão nossa da
cena rock que veio depois de nós, a geração MTV, onde esse
princípio de autoafirmação era algo tão necessário ao Rock
nacional. Nosso personagem é o do contra a tudo isso, o chato! Digamos que ele difere da galera dele, ele não quer mudança nenhuma,
ele quer que os anos 90 sejam aquela merda toda que foi, só para
ele ter o egocêntrico motivo mesquinho de falar mal de tudo. Tipo de
pessoa nefasta, a quem nosso humor transforma em chacota geral, mas
que é um personagem muito vivo e anda por aí nessa época estranha
em que vivemos. Vejamos:
Discurso
Pró Caretice
Querem
acabar com o pagode
Querem
acabar com o forró
Querem
acabar o sertanejo
Querem
acabar o carnaval
E
aí?
E
agora?
Onde
é que fica a minha moral?
E
aí?
E
agora?
De
quem é que eu vou falar mal?
Querem
acabar com o pecado
Querem
acabar com o estado
Todo
mundo dentro da igreja
É
tudo que o patrão deseja
E
aí?
E
agora?
Onde
é que fica a minha moral?
E
aí?
E
agora?
De
quem é que eu vou falar mal?
A
Heterossexualidade Discutível Entre Batman e Robin. Se existe uma
verdade na Good Garden é que nós adoramos o Batman, o morcegão de
Gothan City é de longe o nosso personagem preferido da DC Cosmics,
mas nem por isso ele escapa da nossa ironia. Conta a estória que o
Robin entra em cena por que o morcegão era muito sombrio para a
sociedade norte americana da época, e tem também o seriado de TV
com Adan West e Burt Hard dos anos 60, onde o morcegão se torna algo
totalmente manso, desconfiável, um verdadeiro defensor do sistema.
Aí não dá, tínhamos que frescar, ainda mais depois do Pornô
Batman Sadomasô, surgiu essa pérola:
A
Heterossexualidade Discutível Entre Batman e Robin
Garoto
prodígio eu sou sua mulher
Em
nenhuma racha vai meter a colher
Lutamos
contra o crime e fazemos um par
Tira
logo as calças que eu quero te amar
Morcego
tarado você tá tão danado
Sabe
que eu não te largo estou apaixonado
Nem
o King Kong faz gostoso assim
Vem
cá meu docinho, meu pudim, meu quidim
Batman!
Robin!
Batman!
Robin!
O
Rock do Fuscão vem da minha paixão por Volkswagem (Georgiano) tenho
uma verdadeira paixão por VW e Fiat. Nós somos meninos da
periferia, no meu caso, que sou um Punkabilly, essa coisa de carro é
algo essencial. Um ratlook é tão importante quanto o topete em
nosso meio. Nós gostamos de automóveis, automobilismo, mecânica em
geral… O fusca 69 era da minha família, não meu como diz a
música, mas era como se fosse, meu sonho é algo possível, uma
Kombi para o meu pai e um Fusca para mim. Saca aí a letra.
Rock
do Fuscão
De
manhã bem cedo quando eu pego o meu carrão
Dirijo
de mansinho sem pegar a contramão
Só
rola ritmo quente no toca fitas do fuscão
Um
fusca 69 foi tudo o que eu consegui
Trabalhei
um ano inteiro só poupando sem gastar
Agora
meu benzinho pode comigo passear
O
fusca é todo bege com detalhe em azul
Nele
só rola ritmo quente Rock n' Roll, Jazz e blues
Esse
é meu rock do Fuscão Rock n' Roll mercy, thank you!
Esse
é meu rock do Fuscão Rock n' Roll mercy, thank you!
Só
Vale a Pena Se For Assim é sobre amizade, conquistar amigos, somar e
aproveitar a vida na simplicidade possível na realidade das
periferias. Nesse disco pode se perceber que não queriamos falar em
mágoas, já tem gente demais fazendo isso, ele é a nossa sessão da
tarde, pra nós que praticamente passamos a vida inteira estudando a
tarde, nas férias a sessão da tarde com pipoca, din din ou pão com
café é que era o bicho. O refrão fala em eu quero conquistar você,
para essa vida simples e esse sentimento positivo.
Só
Vale a Pena se For Assim
Vamos
abrir mais bares
Tomar
mais cervejas
Manter
a luz acessa
Nessa
vida complicada
Muitos
amigos feitos
Dormir
bem zen mais tarde
Velhas
besteiras vamos conversar
Nessa
vida arriscada
UH…………
Eu quero conquistar você
UH………..
Nenhuma dúvida resiste ao prazer
Eu
não preciso de muito dinheiro
Estou
largando agora o meu emprego
Viver
pra isso é como vegetar
Nessa
vida é sim pra nada
Aprecie
o sabor da bebida
Use
o poder da amizade
No
prazer das meninas
Ou
no Prazer dos rapazes
UH…………
Eu quero conquistar você
UH………..
Nenhuma dúvida resiste ao prazer
Prefeito
Joseph Walter. Nós nunca quisemos falar as coisas de uma forma
óbvia, apesar de simples e diretas, nossas letras discutem temas
profundos, e são colocadas de forma a sobressair o lugar-comum da
música mais popular das FMS. Os humoristas cearenses, na melhor
cultura de bulling, adicionaram a fama de bairro dos “Cornos” ao
José Walter. E a partir disso toda uma inutilidade criativa nerd foi
acionada para estudos nada proveitosos sobre a origem da fama. Nós
aplicamos outro olhar a esse tema. O Zé Valter é um conjunto
habitacional de 1970, é de certa forma a primeira periferia
organizada em nível de escolas, posto de saúde… enfim serviços
básicos de assistência. Pois bem, as meninas que migraram ou
nasceram no bairro tiveram acesso a tudo isso, contudo, contrário a
visão machista predominante no nordeste Brasileiro da época, essas
meninas são as que estudam, trabalham, e se tornam independentes.
Isso torna o Zé Valter como uma das periferias especiais dentro do
contexto histórico da cidade de Fortaleza. Essa independência é
construída e claro que entraria em choque com a cultura machista. A
má fama do bairro, colocada como é pelos humoristas não atenda a
isso e repete, muito levemente, a visão machista. E não é que
nosso discurso seja feminista, pois nós somos homens heterossexuais
analisando o tema, nenhuma mulher dona de si, independente vai
tolerar o machismo e a violência como as mulheres das gerações
passadas, pelo menos em tese pois a cultura é também empecilho,
junto a desmoralização da assistência em geral. Nosso personagem é
o homem de hoje, marido de uma menina dessas em conflito com a
cultura machista e com a manutenção sadia de seu relacionamento.
Veja:
Prefeito
Joseph Walter
As
fofoquinhas já estão rolando por aí
E
eu tô notando que estão me zoando
Eu
nunca soube o que é barriga branca
E
a minha esposa não está gostando
Eu
vou mudar essa situação
Meus
amigos todos já me chamam de panda
Eu
não serei mais um daqueles babacas
E
vou mostrar agora quem é que manda
Desculpe
meu amor, desculpe amorzinho
Eu
vou fazer o que você quiser
Desculpe
meu amor, desculpe amorzinho
Mas
lá em casa quem manda é a mulher
O
meu nervoso tá ficando pior
Quero
motivo para rirem de mim
Eu
sou capaz de me vingar de alguém
Se
isso tudo continuar assim
Eu
vou mudar essa situação
Meus
amigos todos já me chamam de panda
Eu
não serei mais um daqueles babacas
E
vou mostrar agora quem é que manda
Desculpe
meu amor, desculpe amorzinho
Eu
vou fazer o que você quiser
Desculpe
meu amor, desculpe amorzinho
Mas
lá em casa quem manda é a mulher
Chuva
nas Coivaras. É uma gíria regional que relaciona o universo
agrícola com os relacionamentos afetivos ou simplesmente sexuais.
Mais uma vez fazemos uma inversão observando o universo da música
romântica popular brasileira dos anos 70 & 80, que fora chamada
pejorativamente de brega, e mudando seu habitual ambiente. Nesse caso
o personagem não é o que está sofrendo por traição mas o seu
antagonista, algo inusitado ainda hoje nesse contexto de canção.
Muito bom humor em cima de uma linha melódica clássica adaptada ao
power trio. Observe a letra:
Chuva
nas coivaras
Lá
fora, um frio do caralho
E
aqui dentro meu amor, está chovendo nas coivaras
Lá
fora, o barro está marcado
E
aqui dentro meu amor
Está
soando esse chocalho
Vivendo
a temporada do amor
E
o que vier de fora, agradeça por favor
Saindo
de uma solidão profunda
E
agora vocês cantam…
Lá
fora, um sujeito solitário
E
aqui dentro meu amor, a gente engana
Aquele
otário
Lá
fora, ele se sente tão perdido
E
aqui dentro meu amor
Tudo
bem mais divertido
Agindo
como manda a emoção
Na
liberdade do prazer
Prolongando
a relação
Bem
sabes qual o amor que fica
E
agora vocês dizem….
Assim
enceramos a resenha que demonstra a intenção e todo o universo do
discurso do disco. Acompanhe a banda e sejamos sempre felizes.
Um abraço. Georgiano de Castro.
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